Todas programadas desde cedo essas aflições
estupidamente acolhidas
vividas até o fim
impiedosamente produzidas.
Sim, existe essa coisa inimaginável:
máquina de produzir aflições
sob a pele
reproduzindo em nós os desejos alheios.
Ela produz
reproduz
programa
até assume o controle.
Mas veja, agora, como ela se cala:
é que ela não sabe nadar nas águas douradas da lagoa
quando no mundo os ruídos são mais fortes
é que ela nada pode contra o encontro dos ventos, das rochas, das águas
correntes que nos atravessam de fora.
A máquina não é o império.
Veja como, agora, ela se cala:
nada pode contra as alegrias nascidas dos bons encontros
que trocam palavras, abraços, confiança
nada pode, essa máquina, contra os amores que se vivem intensamente e apesar de.
Movimentos que enlaçam, conspiram, atravessam.
Nem fora, nem dentro
mas por toda parte
sempre algo se produz
que as aflições se calem é a conquista dos domadores de monstros
seres sem carne nem osso
são feitos de correntes e fluxos
que escapam atravessam
que não se podem conduzir
são feitos de águas e ventos e rochas
de peles, de cheiros, de fluxos.
São a vida em estado desfixo.
Vida em estado desfixo. Fiquei aqui a pensar sobre ela, tentando encontrar um ponto onde me fixar. Ainda estou procurando, e acho que todos estamos. Me vejo em busca da letra que falta pra montar a palavra, do caminho que me leve ao destino certo. Mas essa vida em estado desfixo, que pode ser criada em função da "máquina", não consegue mesmo estar acima de tudo. Escapam dela as experiências particulares, por vezes pequenas, por vezes grandes, e que de forma ou de outra, eternizam-se por serem singulares, deixam na memória forte saudade.
ResponderExcluirBeijos!