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quarta-feira, 4 de março de 2009

Últimos dias de desterro



Todas programadas desde cedo essas aflições

estupidamente acolhidas

vividas até o fim

impiedosamente produzidas.

Sim, existe essa coisa inimaginável:

máquina de produzir aflições

sob a pele

reproduzindo em nós os desejos alheios.

Ela produz

reproduz

programa

até assume o controle.

Mas veja, agora, como ela se cala:

é que ela não sabe nadar nas águas douradas da lagoa

quando no mundo os ruídos são mais fortes

é que ela nada pode contra o encontro dos ventos, das rochas, das águas

correntes que nos atravessam de fora.

A máquina não é o império.

Veja como, agora, ela se cala:

nada pode contra as alegrias nascidas dos bons encontros

que trocam palavras, abraços, confiança

nada pode, essa máquina, contra os amores que se vivem intensamente e apesar de.

Movimentos que enlaçam, conspiram, atravessam.

Nem fora, nem dentro

mas por toda parte

sempre algo se produz

que as aflições se calem é a conquista dos domadores de monstros

seres sem carne nem osso

são feitos de correntes e fluxos

que escapam atravessam

que não se podem conduzir

são feitos de águas e ventos e rochas

de peles, de cheiros, de fluxos.

São a vida em estado desfixo.

Um comentário:

  1. Vida em estado desfixo. Fiquei aqui a pensar sobre ela, tentando encontrar um ponto onde me fixar. Ainda estou procurando, e acho que todos estamos. Me vejo em busca da letra que falta pra montar a palavra, do caminho que me leve ao destino certo. Mas essa vida em estado desfixo, que pode ser criada em função da "máquina", não consegue mesmo estar acima de tudo. Escapam dela as experiências particulares, por vezes pequenas, por vezes grandes, e que de forma ou de outra, eternizam-se por serem singulares, deixam na memória forte saudade.

    Beijos!

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