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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Elza Soares e o acontecimento

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"Cadê o barulho? Eu quero ouvir barulho? Vocês têm que gritar, vocês têm que gritar." Isso dizia Elza Soares, como uma Rainha africana em seu trono sobre o palco da Virada, já desde o início, mas sempre repetindo, quase a cada intervalo entre as músicas, nas pausas de sua voz cantando, como se o barulho mesmo fosse o alimento de sua infinita melodia ou o germe de onde brotava a artista a cada vez.

E não saíam de mim aquelas frases lidas muito recentemente em Lógica do sentido: "O que torna a linguagem possível é o acontecimento, enquanto não se confunde nem com a proposição que o exprime, nem com o estado daquele que a pronuncia, nem com o estado de coisas designado pela proposição. E, de fato, tudo isso seria apenas barulho sem o acontecimento, e barulho indistinto". 
Sem o acontecimento, somente ruídos indistintos, é ele que separa, distingue, torna a palavra possível. "Mais barulho, mais alto", dizia Elza e a cada novo sopro sua Voz imensa ressoava esse instante indistinto onde todos os sons eram Um, imenso marulho universal, que torna possível a palavra, a melodia, o sentido, a diferença.
Obrigado Elza por produzir tal acontecimento contra todas essas mentiras reiteradas, e de cantar a vida sobre toda essa tentativa malograda de nos assujeitar.